Depois que ele guardou a bicicleta lá no quintal, e eu peguei meu casaco e saímos andando em direção a lugar nenhum, apenas andávamos lado a lado. Ele me olhava as vezes como se quisesse falar algo, mas estivesse com medo. Após alguns minutos andando em silêncio, chegamos em uma praçinha vazia, me sentei em um banquinho e encarei um laguinho podre na minha frente. Nicholas se sentou do meu lado encarando uma árvore sem folhas ao lado dele.
- Nicholas… - eu disse com uma voz baixa.
- Oi – ele falou sem me olhar.
- Pergunta vai, eu sei que voce quer saber… - disse meio baixo.
- Não, se voce não tiver pronta pra falar… - ele finalmente me olhou.
- Eu quero falar. – eu o olhei, ele estava com uma linda expressão no rosto, mesmo sério.
- Tudo bem… então porque? – ele disse me olhando.
- Eu não sei, fui ficando assim… parece que eu sou mais forte desse jeito. – disse encarando o chão.
- Voce gosta disso? – ele ainda me encarava.
- Um pouco, outras vezes… eu sinto como se fosse muita coisa pra mim… não sei bem como agir… - falava baixo.
- Então, porque não tenta mudar? – ele disse levantando a minha cabeça.
- Porque não tenho forças suficientes para isso, Nicholas. – eu sabia que tinha uma expressão de dor no rosto.
- Voce tem, só esta com medo de tentar… deve ser sido doloroso demais tudo… - ele me olhava com ternura.
- Muito. – meus olhos enchiam de lágrimas aos poucos.
- Eles não gostariam que voce se sentisse tão mal assim… - ele tinha uma das mãos no meu queixo.
- Eu sei… mas isso me deixa ainda pior, saber que eu não tenho forças suficientes pra mudar, pra tentar mudar! – uma lágrima escorreu, fazendo outras caírem rápidas.
- Eu vou te ajudar! – ele disse quando me abraçou, me acolhendo em seus braços que estavam tão quentes, mesmo com aquele frio todo.
- Voce não é obrigado… - eu dizia soluçando por causa do choro.
- Sim eu sou… - ele disse agora me olhando nos olhos.
- Não é… - ele não me deixou terminar a frase, me calando com um beijo demorado.
- Voce ia dizer alguma coisa? – ele perguntou sorrindo, após o beijo.
- Eu não entendo porque isso. – eu olhei pra baixo e depois o olhei de volta – Eu só te conheçi hoje, nós ja nos beijamos e, e voce parece tão puro, me parece tão familiar… é como se eu já te conhecesse a vida toda. – eu estava confusa com tudo aquilo.
- Eu te compreendo, eu estou sentindo a mesma coisa… desde que eu te vi na sala, tudo em voce me chamava atenção e eu não consiguia me desligar de voce. – ele riu.
- Será que isso é bom? – eu o olhei sorrindo.
- Tenho certeza que sim. – ele me beijou outra vez antes de irmos embora.
Ele me deixou em casa e voltou andando pra casa. Nós combinamos que não íamos ficar nos expondo, até porque eu ainda tinha que conversar com meus amigos sobre meu envolvimento afetivo com ele. Naquela noite, eu demorei a dormir… ele conseguiu me deixar elétrica e ansiosa pelo dia seguinte.
Na manhã seguinte, eu acordei cedo, estava com vontade de ir para a escola… tudo para olhar pra ele. Eu demorei mais tempo que o normal, fiquei me olhando no espelho, queria estar bonita pra quando ele me visse. Coloquei minha melhor blusa de mangas e desci pra cozinha. Minha tia me olhou elogiando minha aparência e eu sorri agradecendo.
Quando cheguei na escola, encontrei com o Nicholas perto do estacionamento. Nossa, como ele estava lindo… os cabelos estavam tão brilhosos, o sorriso dele era fantástico. Ele se encostou atrás de um carro e me esperou chegar até onde ele estava.
- Oi! – eu disse sorrindo.
- Você esta linda! – ele falou enquanto me puxava pra um abraço apertado.
- Obrigada, é rosa viu? Não é preto! – eu ri recebendo um selinho.
- Aham, foi por minha causa? – ele perguntou.
- Voce não disse que eu tinha que mudar? Então, eu comecei… – falei sorridente.
- Hum... estou gostando disso. – ele disse me dando um abraço carinhoso – Então vamos para aula? – perguntou segurando minha mão.
- Juntos? – eu disse meio engasgada.
- Acho que sim. – ele falou como se fosse óbvio.
- Eu.. eu tenho que falar com os meus amigos ainda sobre... – eu não consegui completar.
- Tudo bem, posso apenas ir andando do seu lado? – ele falou me interrompendo.
- Vai parecer que estamos juntos? – eu disse meio sem graça.
- É melhor voce ir... – ele disse olhando por cima da minha cabeça e se afastando.
- Eu... – foi quando percebi que meus amigos estavam vindo.
- Tchau. – ele disse desaparecendo entre os carros.
- Yasmin? – Alex gritou.
- Oi! – eu disse me virando pra encará-lo.
- Tá fazendo o que aê? – Fred perguntou.
- Tava austistando. Vamos pra dentro? – falei andando.
- Tá vamos. – Ruth falou me seguindo.
Fui passando pelo corredor com algumas pessoas me olhando, talvez por causa da cor da minha blusa. Tinha muito tempo que não usava uma cor desse jeito, o professor Rubens me viu e elogiou me fazendo corar.
- Tá mais lindona hoje hein! – ele sorriu.
- Para bobão! – disse meio sem graça.
Entrei na sala junto com Alex, Ruth e Fred. Eles eram a turminha do mal, e bem eu era a cabeça. É estranho falar isso, mas eu estava começando a pensar que aquela não era eu, e que a Yasmin que ‘morreu’ era a minha verdadeira face.
Dentro da sala, a professora Tyra já estava escrevendo a matéria no quadro, eu nunca copiei a matéria dela, mas hoje senti vontade de copiar. Fui andando pela sala até chegar perto de Nicholas e sentei ao lado dele, peguei meu caderno e minha caneta e começei a copiar, muitas pessoas cochicharam sobre essa minha atitude ‘calma’. Eu não liguei e as ignorei, eu sabia fazer isso e amava.
A professora virou-se e ficou me encarando um tempo, ela ia dizer algo mas preferiu continuar escrevendo. Meus amigos me olhavam como se eu estivesse fazendo a pior coisa do mundo. Ah para, eu tinha que voltar a ser a mesma menina de antes e por mais que eu odiasse biologia eu precisava aprender aquela matéria. Nicholas copiava tudo sem dar uma palavra, eu não sabia se estava chateado comigo, ou se estava apenas cumprindo o nosso ‘trato’.
quinta-feira, 30 de julho de 2009
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